J.Sisters, cuticulas milionarias

By Chris Martinez,
de Nova York (reportagem publicada no Valor Economico em 12/07/2007)


Elas são muitas. Espalham-se por três andares de um charmoso prédio que pertenceu à familia Vanderbilt, no número 35, da rua 57, quase na esquina da 5ª avenida, no miolo chique de Manhattan. Cabelos pretos e longos, batom vermelho e roupas joviais, Jonice Padilha mistura-se a outras e exerce o ofício de manicure tal como fazia no início da carreira, há mais de 20 anos.
Debruçada sobre os pés de uma senhora, ela remove as cutículas, lixa, passa creme e pinta as unhas da cliente, na tentativa de ajudar a sobrinha, igualmente talentosa, mas menos experiente. Jonice sabe o que está fazendo. Ela é uma das J Sisters, as sete manicures de Linhares (ES) que fizeram fama nos Estados Unidos, ao implementar a tecnica brasileira de tirar cutículas. Nos EUA, as mulheres, em geral, empurram a pele e colam unha postiça sobre a natural.
"O segredo é por a mão na massa", diz Jonice, a caçula das sete irmãs, cujos nomes começam com a letra J, em homenagem a mae, Judith. E, assim, elas são: Judsea, Jussara, Juraci, Joceli, Jania, Joyce. Juntas, ergueram uma empresa que atende mais de 200 clientes por dia, tem 50 funcionários e fatura mais de US$ 3 milhões ao ano. Abriram uma filial em Miami em 2004 e agora se dedicam a acelerar a expansão da linha de marcas próprias, composta por xampus, cremes, produtos para depilação, maquiagem e esmaltes. Os xampus e condicionadores levam a marca das irmãs, mas também têm a assinatura dos cabeleireiros Gregg, Britt e Jean François.
"Queremos lançar a nossa marca no Brasil", diz Jonice, que exibia um olhar cansado, dias atrás. "Aqui não tem moleza, acordo às cinco da manhã e vou até tarde da noite", diz, em seguida, mais animada.
Além de fazer de tudo um pouco no salão, Jonice assumiu o papel de porta-voz da empresa e, tambem, a de pesquisar novas oportunidades de negócios. "Acabei de voltar do Brasil e estamos vendo a possibilidade de fazer nossos produtos lá." O desembarque da etiqueta J.Sisters pode ser por meio da construção de uma fábrica própria ou, então, terceirizando a produção.
"Ainda é algo novo, estamos vendo qual a melhor alternativa", afirma. O que não é viável, segundo ela, é produzir nos Estados Unidos e exportar para o Brasil. "Fica caro e perdemos a competitividade." Aqui, as J.Sisters fabricam alguns produtos como cera de depilação e a linha de xampu em uma pequena unidade no Estado vizinho de New Jersey, separado de Nova York pelo rio Hudson.
Uma outra parte da produção, como esmaltes, por exemplo, é terceirizada a empresas locais. As J.Sisters exportam para Austrália, Irlanda e outros países da Europa. Jonice prefere não revelar números, mas faz questão de dizer que tudo o que ela e as irmãs fizeram até agora foi com capital próprio, sem empréstimos ou sócios. "Não fazemos dívidas, não temos decoradores de interior e se tiver que pintar uma parede, nós mesmas pintamos". Abrir franquia? "Nem pensar", apressa-se em dizer.
O capital das J.Sisters foi se acumulando aos poucos. "Cheguei aqui aos 19 anos, trabalhava num salão. Quando descobri que a minha chefe chegava antes das 8 da manhã, eu passei a chegar ainda mais cedo para mostrar trabalho, ajudar", lembra Jonice.
Mas a história das irmãs começou pelas mãos de Jocely. Ela desembarcou em Nova York com US$ 500, uma boa dose de coragem e com um vocabulário parco, que reunia meia dúzia de palavras em inglês. Trabalhou num salão aqui, outro ali. E foi cativando uma boa freguesia. Reuniu histórias curiosas. Uma delas foi a da vez em recebeu uma "gorjeta" de US$ 1,5 mil de um cliente que ela foi atender em casa. Tomou um chá de cadeira na casa do então magnata do petróleo Adnan Kashoggi. Ela ficou horas esperando ele sair de uma reunião, ao telefone. Tempos depois, descobriu que o seu cliente estava conversando com o presidente Ronald Reagan. "Nem dá para acreditar que isso seja verdade, mas é", comenta Jonice. Hoje, das sete irmãs, quatro ainda estão nos EUA e três voltaram para a terra natal. Além delas, onze sobrinhas foram importadas para ajudar a manter o padrão à brasileira de cuidar do corpo.
Cuidar da pele, das unhas e dos cabelos não é exatamente uma prática barata em Nova York. Nas J.Sisters, muito menos. Famosas e com uma clientela estrelada, que reúne modelos e atrizes como Naomi Campbell, Liv Tyler e Gwyneth Paltrow - além de outras tantas que têm suas fotos, autografadas, penduradas numa galeria dentro do salão -, as J.Sisters cobram bem pelo serviço prestado.
Um corte não sai por menos que US$ 150. As unhas das mãos, US$ 45, dos pés, US$ 65 e um reflexo nos cabelos, US$ 350. A depilação, outra marca de sucesso das moças capixabas em Nova York, custa entre US$ 65 e US$ 85. Fora a taxa obrigatória de 8,5%, mais a gorjeta, em torno de 15%. Caro? Pode ser para os padrões brasileiros. Mas o fato é que o salão das J.Sisters está sempre lotado.